Seminário Integrador (Ensino, Pesquisa e Extensão)

Foto: Seminário Integrador (Projeto Politécnico) do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância realizado de forma virtual. O seminário teve a participação conjunta das turmas que ingressaram nos anos 2019 e 2021.

O que é:

O Seminário Integrador do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância do IFNMG-Campus Almenara consiste em uma reunião dialógica acadêmica entre professores e alunos para instrução em torno de questões de ordem técnica e que não fazem parte da matriz curricular do curso. É realizado em forma de apresentação oral. Ele é considerado integrador devido à lógica inter e transdisciplinar e integração entre as disciplinas propedêuticas, técnicas e demandas da comunidade.

Durante o ano são organizados dois seminários integradores; um por semestre letivo. Os seminários são presididos pela Coordenação do Curso. Também participam do Seminário Integrador: os Grupos de Estudos e Trabalho Técnico (GETEC’s) das turmas, dois professores das disciplinas propedêuticas (geralmente de português e de matemática), dois professores das disciplinas técnicas, um monitor e, se for o caso, convidados externos ao curso ou à instituição, tais como professores, pesquisadores ou produtores rurais.

Às vezes nós tivemos de piscicultura e tivemos… é porque os meninos não entendiam como se organizavam, então você tem um seminário que vêm alguns professores da área técnica e alguns professores da área de propedêutica (…) O Projeto socioprofissional, os nossos, são ampliados, que é diferente da EFA. No nosso, a mesa é multidisciplinar. Seminário técnico, é uma temática técnica (…) Faz integração com a temática da seguinte forma: as propedêuticas estão a serviço das disciplinas técnicas” (COORDENAÇÃO DO CURSO, 2021).  

Gênese, método e objetivos:

O Seminário Integrador surgiu de uma demanda das mediações didático-pedagógicas da Pedagogia da Alternância: O Plano de Formação. O objetivo é trazer demandas do Plano de Formação e dúvidas dos alunos e que tem relação com questões técnicas de agricultura e pecuária.

Os alunos são orientados a trazer questões que os incomodam no trabalho com seus pais na propriedade da família e na vida cotidiana em suas comunidades. Daí, aprofundam os estudos com base em temáticas relacionadas às questões por eles trazidas. Assim, os Seminários Integradores garantem aos alunos do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância o “acesso aos conhecimentos socialmente construídos, tomados em sua historicidade, sobre uma base unitária que sintetize humanismo e tecnologia” (RAMOS, 2003 p. 4).

“A ampliação de suas finalidades, dentre as quais se incluem a preparação para o exercício de profissões técnicas, a iniciação científica, a ampliação cultural, o aprofundamento de estudos, é uma utopia a ser construída coletivamente” (RAMOS, 2003 p. 4).

Essa é a utopia de um Ensino Médio que desenvolve as possibilidades formativas. Para Ramos (2003), um projeto de Ensino Médio com identidade unitária e contempla as múltiplas necessidades sócio-culturais e econômicas dos sujeitos de direito que cursam esta última etapa da educação básica é um desafio possível de ser vencido se for trabalhado de forma coletiva.

A inclusão de questões não previstas na Matriz Curricular, mas que são demandas do Plano de Formação é uma forma de integração curricular semelhante dialogicidade da educação tão defendida por Paulo Freire. Segundo Freire (1987), é direito dos educadores-educandos discutirem temas não sugeridos nos Círculos de Cultura, pois haverá o preenchimento de um vazio entre temas. É muito próximo dos chamados “temas dobradiças” (FREIRE, 1987 p. 73).

(…) eles estudaram a temática, levaram questões para serem aprofundadas. Tinha a mesa de professores e eles iam para o debate. Então vinha ali: Ha! Meu pai cuida assim do boi. Aí o professor: bem esse cuidado … como é que devemos entender esse cuidado. Aí vinha o aprofundamento teórico desse cuidado com o animal. E aí sempre a gente procurou mediar isso com a matemática, com a parte de linguagens e também a parte de biologia (…) Quando eles tinham dúvidas, eles iam lá atrás do professor. Então é muito comum na alternância isso. Então, assim, a gente fala assim: “Oh! Como é que eu fico sabendo disso?”  “Vai lá e pergunta ao seu professor de português, de biologia, de química”. Não é que eles estavam na roda não (COORDENAÇÃO DO CURSO, 2021).

Tal como uma dobradiça, facilita a abertura da compreensão de questões num conjunto de unidades temáticas que só o povo tem condições de compreender devido a sua visão de mundo. Daí, mesmo que não esteja na Matriz Curricular, estes “temas dobradiças” têm um “rosto de unidades temáticas” (FREIRE, 1987 p. 73). A última questão técnica discutida na forma presencial de Seminários Integrados foi relacionada à captação de água e instalações de captação.

São incluídas na característica integradora do seminário a tríade ensino, pesquisa, e extensão:

(1) ensino: integração das disciplinas propedêuticas e técnicas. As disciplinas propedêuticas a serviço das disciplinas técnicas em prol da formação cidadã de desenvolvimento dos arranjos produtivos locais.

(2) pesquisa: atividades de aprofundamento dos assuntos ligados a temática técnica dialogando com os arranjos produtivos locais.

(3) extensão: aproximação da escola com as demandas apresentadas pelos discentes, suas famílias e representantes comunitários.

Foto: Princípios do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância. Fonte: Coordenação do curso.

Segundo a Coordenadora do Curso, no formato presencial do Seminário Integrador a construção dos objetivos, da metodologia e da pesquisa bibliográfica era fixada no professor e não era compartilhado com os alunos. Nesse formato, a pesquisa não era enriquecida com entrevistas com os familiares e com membros da comunidade dos alunos.

Em 2020, devido o contexto pandêmico e de aulas não presenciais, o Seminário Integrador passou a ter um formato virtual. Seu nome foi alterado para Projeto Politécnico. Uma equipe formada pela Coordenação do Curso e professores da área técnica criou condições para que os alunos construíssem um Projeto de Pesquisa com base em demandas da sua comunidade.

Com orientações de uma equipe formada pela Coordenação do Curso, dois professores das disciplinas propedêuticas (geralmente de português e matemática), dois professores das disciplinas técnicas e um monitor, os alunos constroem os objetivos e a metodologia do projeto, e realizam pesquisas etnográficas e bibliográficas.

Um novo formato passou a ser construído em 2021. Passaram a ser reunidas em sala virtual as turmas do 1º ano e do 3º ano do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância. Os procedimentos para organização Seminário Integrador/Projeto Politécnico são divididos nas seguintes etapas:

Imagem: Mapa conceitual de planejamento de Seminário Integrador e Projeto Politécnico.

1ª Etapa – Organização e planejamento: neste momento é realizada a construção dos objetivos da pesquisa. São apresentados para os alunos os professores, monitores e demais convidados presentes, o objetivo da ocasião e os conceitos das palavras Seminário e Integrador. Daí os alunos apresentam as várias demandas das suas comunidades. As temáticas começam a ser esboçadas e apresentadas na tela da reunião virtual. Conforme as questões vão surgindo são também descritos na tela exemplos de definição de temas da pesquisa.

2ª Etapa – Apresentação das questões: os alunos são convidados a sair da sala virtual e se reunir com seus Grupo de Estudos e Trabalho Técnico (GETEC’s) em outra sala ou em outra plataforma eletrônica de reunião. Os mesmos tem 10 minutos para formularem questões com base nas temáticas sugeridas pelo grupo e demandas apresentadas na tela da reunião. Daí os alunos são convidados a retornarem à sala virtual de reuniões do Seminário Integrador. O coordenador do GETEC’s apresenta no chat as perguntas formuladas pelo seu grupo.

3ª Etapa – Discussão das questões: as perguntas apresentadas pelos alunos são amplamente discutidas durante o Seminário. Em alguns momentos, os coordenadores dos GETEC’s expõem sobre o porquê das suas perguntas e comentam sobre as demandas de sua comunidade que provocaram seu GETEC’s a formularem as perguntas. Em outros momentos os professores elogiam os alunos pela pertinência das questões e dão exemplos de como sistematizá-los em temas. Posteriormente, os GETEC’s são convidados a se reunir novamente em outro ambiente virtual durante 1h30 para discutirem as possíveis soluções dos problemas apresentados por eles.

4ª Etapa – Definição de temas: o Seminário tem continuidade com definição dos temas e metodologia da pesquisa. Definidos os temas, os GETEC’s são convidados a se reunir durante tempo determinado pela presidente do Seminário para discutirem sobre a metodologia da pesquisa. Ao retornarem para a reunião virtual, os alunos coordenadores dos GETEC’s expõem o resultado das discussões acerca dos temas e da metodologia de pesquisa deliberada por eles.

5ª Etapa – Pesquisa Etnográfica: definida a metodologia da pesquisa, os GETEC’s são orientados a desenvolverem uma pesquisa oral sobre o tema, realizando entrevistas com familiares na sua propriedade e membros da sua comunidade.

6ª Etapa – Roda de Conversa: o Seminário tem continuidade com a apresentação da pesquisa oral realizada pelos GETEC’s. Os Coordenadores dos GETEC’s apresentam os resultados da pesquisa de todos os membros de seu grupo, conforme ordem determinada pela presidente do Seminário. A presidente do Seminário abre uma roda de conversa entre professores, monitores e alunos sobre os resultados das pesquisa: as entrevistas, os conhecimentos tradicionais trazidos, e os temas discutidos com a família. Os professores realizam perguntas acerca dos resultados apresentados pelos alunos. Geralmente estes leem as entrevistas e comentam sobre as memórias trazidas pelos entrevistados.

7ª Etapa – Pesquisa bibliográfica: encerrada a etapa da roda de conversa, os GETEC’s são orientados pelos professores a realizar o aprofundamento teórico sobre os conhecimentos tradicionais, os temas trazidos pelos entrevistados e as situações apresentadas por estes.

9ª Etapa – Projeto Politécnico: o Seminário tem continuidade com roda de conversa recheada discussões, debates enriquecedores e novas propostas de pesquisa e de temas para discussão em aula ou em outros Seminários.

“Na Alternância não há aluno, mas ator socioprofissional, no sentido de que o estudante deve se tornar ativo no processo educativo” (BEGNAMI, 2018 p. 122).

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