O ponto de vista do conhecimento considerado necessário
O planejamento e as estratégias organizacionais de integração Curricular e ensino integrado considera a relevância do ponto de vista do conhecimento necessário apresentado pela família, pelos discentes e pelos representantes comunitários.
A discussão em torno do planejamento dos instrumentos de integração curricular é geralmente realizada em diversos momentos com o corpo docente e outros profissionais vinculados ao sistema educacional. Santomé (1998) e Freire (1987) citam a necessidade de especialistas em pedagogia, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais de diversas áreas científicas para colaborarem no entendimento das demandas recebidas.
Foto: Encontro das famílias dos alunos do Curso Técnico em agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância em área montada pelos próprios alunos no Campus para diálogo das famílias com a escola.
É isso que Paulo Freire defende no livro Pedagogia do Oprimido. O educador aborda a importância do diálogo quando da investigação dos temas geradores através dos Círculos de Cultura. Os temas geradores dão origem a blocos temáticos que comporão o currículo do curso pretendido (FREIRE, 1987 pp. 63-75).
“Um debate aberto e sincero é um dos meios importantes que podem contribuir para enriquecer o projeto educacional (…) podem fazer que surjam perspectivas impensáveis para o próprio corpo docente” (SANTOMÉ, 1998 p. 190).
A falta de comunicação entre a escola e a comunidade em que esta faz parte cria a figura de uma escola estranha e descontextualizada da realidade. Seu corpo docente é alienado tal qual um operário da indústria capitalista, repetidor de um currículo prescrito em livros didáticos que “já dominam seus produtos de projetos curriculares” (SANTOMÉ, 1998 p. 192).
A perspectiva dos sujeitos que serão diretamente impactados pelos conteúdos contextualizados do currículo criará um rico e integrador projeto pedagógico baseado em um “Programa em que o povo se encontrará, de que não se sentirá estranho, pois que dele saiu” (FREIRE, 1987 p. 75) Caso contrário, nas palavras de Freire (1987), “qualquer tentativa do educador de orientar o diálogo, na descodificação, para outros rumos que não fossem os de suas necessidades sentidas, provocavam o seu silêncio e o seu indiferentismo” (FREIRE, 1987 p. 70).
Interessante notar que no currículo escolar existe e deve existir uma comunicação da escola com o meio social. Embora a escola não seja a solução dos problemas sociais e culturais do mundo, ela desempenha um papel importante quando trabalha nesse sentido.
A ideia sobre valores, tipos de sociedade, verdade das dimensões políticas e éticas, e análise crítica de quais são os conhecimentos tornando legítimos pela sociedade influenciam a seleção dos conhecimentos do currículo integrado. Por isso, é importante colocar esse fato no debate nos currículos e na prática de ensino docente. É pertinente não ignorar opções de conhecer a seleção de conhecimento da sociedade tendo como base o fundo epistemológico, o ponto de vista ontológico e o ponto de vista ideológico. (SANTOMÉ, 1998; RAMOS, 2010).
A construção de um projeto de currículo integrado envolve profissionais de várias disciplinas que pensam juntos. São grupos profissionais integrados por professores especialistas de diversas disciplinas que pensam maneiras de estruturar o conhecimento de sua especialidade com a perspectiva de um projeto de formação integral; que permita aos sujeitos que vão ser impactados pela ação pedagógica compreender e transformar a realidade em que vivem.
Isto requer uma renovação e inovação pedagógica e institucional, uma renovação da forma de pensar disciplinas e uma renovação na forma de prática educativa. Isto é, uma reorganização da estrutura institucional, da gestão administrativa e da gestão pedagógica. A seguir, segue a recomendação de alguns passos para se iniciar a construção de um projeto de integração curricular e formação integral em uma instituição de Educação Profissional e Tecnológica (EPT).
Veja abaixo o quadro com esquema mental com alguns passos para se iniciar a construção de um projeto de integração curricular e formação integral em uma instituição de Educação Profissional e Tecnológica (EPT).
O primeiro passo é a estruturação de comitês ou grupos de trabalho regionais formados por docentes, gestores da área de ensino e da área administrativa e pedagógica para discutirem sobre leis, regulamentos e processos de ensino integrado. De acordo com Santomé (1998),
“A construção do projeto é acompanhada por numerosos seminários de reflexão e coordenação em que são decididas filosofias e linhas de fundo da proposta a medida que vão sendo elaborados materiais os mesmos vão sendo experimentados em diversas práticas em instituições escolares analisa-se sua coerência validade e funcionalidade” (SANTOMÉ, 1998 p.192).
O segundo passo é a organização de cursos de capacitação de equipes de trabalho e de gestores das instituições que estão articulando estratégias de integração curricular e de formação integral. Essas capacitações podem acontecer em forma de eventos, tais como: fóruns, seminários, conferências, mesas redondas e Workshop sobre formação integral e currículo integrado.
O terceiro passo é a criação de grupos de estudos responsáveis por pesquisar a fundamentação teórica da temática, questões legais e o perfil profissional egresso e do público-alvo direcionado para os projetos pedagógicos dos cursos. Também faz parte desse passo a criação de grupos de trabalho para pensar as diretrizes gerais de reestruturação dos projetos pedagógicos, as das matrizes curriculares e os processos seletivos de acordo com as peculiaridades e diversidades regionais de cada curso.
Por fim, cada grupo realizará a organização dos conhecimentos em blocos temáticos. Daí, estes serão organizados em disciplinas e em conteúdos contextualizados durante as discussões das equipes nas reuniões regionais. Estes blocos temáticos deverão ser investigados através do diálogo com as comunidades em audiências públicas e junto ao público de abrangência da instituição escolar. Nesses encontros é investigado o perfil da formação integral e a definição dos conhecimentos necessários para se chegar ao perfil profissional do egresso; obviamente pensado pelos próprios sujeitos demandantes desses conhecimentos.
O objetivo é a organização e o gerenciamento do ensino integrado sob a ótica interdisciplinar e dialógica, considerando as suas dimensões regionais, sociais, políticas, ambientais e econômicas; sob a perspectiva da integração dos saberes e fazeres escolares com os saberes e fazeres das famílias e das comunidades.
A entrevista individual é item relevante do Processo Seletivo para o Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância, pois busca e captação do público alvo do curso: os sujeitos de direito da Educação do Campo.
Pedagogia da Alternância Diretrizes e operações do Currículo Integrado 