A investigação dos Temas Geradores como Estratégia organizacional de Integração Curricular e do Ensino integrado

Foto: Alunos do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância integrantes do Grupo Intersetorial de Educação do Campo (GITEC) apresentando demandas educacionais em momento de levantamento de problemas sociais, ambientais e econômicos do ponto de vista das comunidades do Baixo Jequitinhonha para sistematização de temas geradores e para atualização do Plano de Formação do curso.

De acordo com Paulo Freire, “a educação é a comunicação, é o diálogo; a educação não é transferência de conhecimento” (Freire, 1983 p.44). Ou seja, demanda uma unidade de diversidade de pensamentos que se integram em um pensamento mútuo. Na ação comunicativa, é preciso a integração da ciência com a realidade dos sujeitos. Respeitar como os sujeitos pensam percebem a realidade sobre o qual exerce uma prática transformadora é uma ação educativa emancipadora. Segundo Freire, a comunicação não pode ser de caráter individual, mas sim social.

O ponto de partida para a organização curricular, isto é, as dimensões econômica, produtiva, social, política e técnica é a conversão das dimensões da realidade, oriunda do diálogo da escola com a comunidade, em temas geradores.

Essa estratégia de integração curricular foi descrita pelo educador Paulo Freire quando da descrição das etapas que uma equipe interdisciplinar deve realizar ao se investigar as informações adquiridas das vozes dos sujeitos nos Círculos de Cultura. As etapas para a investigação e realização dos Círculos de Cultura são encontrados no livro Pedagogia do Oprimido (Freire, 1987 p. 62).

Esta investigação se constitui na organização do diálogo em um círculo de cultura; é de onde sairão as informações ou temas para a construção do currículo com base na percepção do público demandante do curso. É a investigação de como a escola deve aprender a ensinar. Afinal o ensino integrado vem da realidade; a realidade  deve ser integrada aos conteúdos curriculares.

Os temas geradores se revertem em conteúdos sistematizados que comporão os blocos temáticos e os conteúdos contextualizados na matriz curricular. Estes percorrerão as diferentes disciplinas e áreas do conhecimento durante a prática pedagógica, diferenciando-se “metodologicamente e em suas finalidades situadas historicamente; porém epistemologicamente, esses conhecimentos formam uma unidade” (RAMOS, 2010 p 120).

“Esta, a base da qual se pretende elaborar o programa educativo, em cuja prática educadores-educandos e educandos-educadores conjuguem sua ação cognoscente sobre o mesmo objeto cognoscível, tem de fundar-se, igualmente, na reciprocidade da ação. E agora, da ação mesma de investigar” (FREIRE, 1987 p.64).

Por meio da investigação dos temas geradores estabelece-se uma pedagogia da escuta.  A escuta das vozes, que não só dentro da escola, conduzirá os trabalhos da equipe multidisciplinar. Esta equipe é responsável pela definição dos conhecimentos que comporão o currículo e, principalmente, pela organização dos eixos mediadores que servirão de base para a integração curricular. Estes eixos devem ter como base o trabalho, a ciência e a cultura.

Foto: Sistematização dos temas geradores para construção do Plano Formação com participação efetiva dos participantes do Grupo Intersetorial de Trabalho em Educação do Campo (GITEC) para levantamento de demandas educacionais do Baixo Jequitinhonha.

De acordo com Ramos (2010), é “a partir do conhecimento na sua forma mais contemporânea que se pode compreender a realidade e a própria ciência na sua historicidade”. (RAMOS, 2010 p. 120). Com base nesse entendimento que se parte para a segunda fase da investigação dos temas geradores.

As opções da equipe da escola para as estratégias de integração dependerão da demanda desenhada nos dados coletados pela equipe durante os diálogos com a comunidade local, com a comunidade escolar e com os demais envolvidos no processo formativo. Daí, a equipe multidisciplinar da escola faz uma socialização oral das discussões com identificação dos temas geradores, dos blocos temáticos e dos espaços de aprendizagem.

“A segunda fase da investigação começa precisamente quando os investigadores, com os dados que recolheram, chegam à apreensão daquele conjunto de contradições.” (FREIRE, 1987 p. 69).

Daí, surgirão os temas que deverão ser classificados num quadro geral contendo os conteúdos escolares. Durante as reuniões da equipe, é cabível os registros das sugestões dos especialistas que compõe a equipe multidisciplinar idealizadora do projeto. Estas sugestões “ora se incorporam à ‘redução’ em elaboração, ora constarão dos pequenos ensaios a serem escritos sobre o tema ‘reduzido’, ora uma coisa e outra” (FREIRE, 1987 p.73). Dali, estes ensaios surgirão como as ementas das disciplinas, agregando-se às sugestões de referências bibliográficas. 

Foto: Reunião no IFNMG-Campus Almenara com participação direta e efetiva de representações sociais e políticas do Grupo Intersetorial de Trabalho em Educação do Campo (GITEC), responsável pelo levantamento de demandas educacionais do Baixo Jequitinhonha.

Por fim, serão introduzidos os conteúdos contextualizados que manterão a integração entre os temas disciplinares e os temas geradores; formando-se, assim, os blocos de conteúdos contextualizados, ou seja: os conhecimentos construídos historicamente a partir das realidades e dimensões em que estes conhecimentos foram construídos.

A organização dos temas detectados exigirá a organização formal do currículo em disciplinas. Daí os saberes científicos estarão presentes “em objetos de ensino das diferentes áreas do conhecimento” e irão se organizar na forma de programas escolares (RAMOS, 2010 p. 121). Isto significa que “o currículo tem que levar em consideração o conhecimento local e cotidiano que os alunos trazem para a escola, mas esse conhecimento nunca poderá ser uma base para o currículo” (YOUNG, 2007, p. 13).

A organização formal do currículo deve considerar que o pontapé inicial para se definir as estratégias de integração curricular e formação integral é a contemporaneidade do cotidiano local; mas isso não significa a base. O processo pedagógico e a prática educativa integradora se baseiam na construção do conhecimento a partir de como se dá a apropriação de um conceito geral situado historicamente e das contradições nas questões que fundamentam os conceitos nas relações entre os fenômenos observados no cotidiano dos sujeitos.

“O diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o
pronunciam”, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a
humanização de todos” (FREIRE, 1983 p. 28).

Foto: Mediação didático – pedagógica caracterizada pela visita às famílias dos alunos. Neste momento a Coordenadora do curso dialoga com aluna na propriedade da família.

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